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COGNIÇÃO E COMPORTAMENTO SÃO ANALISADOS NO PÓS AVC.
Mesmo tendo socorro de imediato, ninguém está livre de sequelas. Dr. Adson Freitas de Lucena explica que o espectro clínico do AVC é amplo, podendo comprometer a emissão e compreensão da fala, a parte visual, motora, sensitiva, além de alterações de marcha e equilíbrio.
Um dos focos principais é evitar a espasticidade, rigidez nos músculos que pode provocar deformações, impedindo a execução de alguns movimentos. O processo de reabilitação exige paciência e obstinação do paciente e, também, do seu cuidador, que tem uma função extremamente importante no decorrer do tratamento.
Reabilitação cognitiva
A neuropsicóloga, psicoterapeuta humanista-fenomenológica, Liane Landim, sugere que o paciente com AVC passe também por uma avaliação neuropsicológica a fim de identificar as alterações cognitivas e comportamentais.
Os resultados irão nortear o desenvolvimento de práticas não farmacológicas para a reabilitação. Tais intervenções abrangem desde técnicas com neurobiofeedback para realizar treino cognitivo, desenvolvimento de estratégias de compensação, modificação dos ambientes domiciliares e de trabalho, psicoterapia, orientação aos familiares e cuidadores.
Risco de depressão
A médica alerta ainda para os pacientes com depressão após o AVC. Sua ocorrência é elevada, mas infelizmente pouco diagnosticada. “Pesquisadores indicam que os sintomas neurocognitivos e físicos, como os de fadiga, retardo psicomotor, diminuição na capacidade de concentração, insônia, redução do apetite, isolamento social e tristeza fazem parte dos critérios diagnósticos para depressão”, diz. Diante disto, torna-se imprescindível uma intervenção psicoterápica.
Outro aspecto importante, muitas vezes negligenciado, é a orientação das famílias. “Quando o paciente recebe alta hospitalar ele acaba mudando a dinâmica familiar, requerendo uma reorganização nos papéis, gerando demandas funcionais e emocionais”. No entanto, a família nunca está preparada para atender o seu paciente, dessa forma é necessário que a equipe de neuropsicologia esteja atenta à saúde dos familiares/cuidadores.
Esperança
Segundo Liane Landim, diferentes profissionais devem integrar a equipe de reabilitação neuropsicológica: psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. A contribuição de cada um será de forma integrada, centrando as ações da reabilitação nos ganhos funcionais do paciente.
“No caso de um paciente com sequelas de memória, a reabilitação não deve estar focada em uma memorização aleatória de uma lista de palavras, mas sim num treino cognitivo para aprender estratégias para a vida prática, a partir da perspectiva do próprio cliente”, explica a médica.
Com este foco, discussões e estudos devem ser realizados para que sejam traçadas as intervenções, de forma que elas se complementem e se estimulem. A ação deve ser bem definida, e com tempo para alcance das metas a curto, médio e longo prazos.
Cuidados podem evitar a reincidência da doença
As chances de ter um AVC podem e, devem, ser minimizadas com o acompanhamento adequado dos fatores de risco modificáveis, conforme explica Dr. Adson Freitas de Lucena. Dentre os principais riscos estão: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, tabagismo, altas taxas de colesterol e triglicerídeos.
O médico ressalta ainda a importância do controle das doenças cardiovasculares, sobretudo aquelas que produzem arritmias, obesidade, sedentarismo e também o consumo de álcool.
Para aquelas pessoas que têm fatores de risco não modificáveis, bem como o histórico familiar em primeiro grau, sexo masculino, idade acima de 55 anos, caberá uma atenção redobrada para garantir o controle dos fatores de risco modificáveis.
Estado de alerta
Outra questão preocupante é com relação a possibilidade de reincidência do AVC. No caso dos fatores de risco não serem corrigidos, o paciente continuará com o risco igual ou maior após o primeiro evento cérebro-vascular. Vale destacar que não existem dois episódios iguais e a gravidade dos sintomas dependerá da área afetada e de extensão da lesão cerebral.
Anualmente, 5 a 14% dos pacientes com AVC irão desenvolver um segundo evento no período de um ano. Em cinco anos, a recorrência do AVC pode chegar a 24% em mulheres e 42% em homens. Estes dados demonstram o grau de alerta que se faz necessário diante da manifestação da afecção, incluindo as mulheres que vêm aumentando o registro de ocorrências.
Tempo é cérebro
Por outro lado, Dr. Adson informa que o AVC é uma doença previnível na maioria dos casos, desde que haja a intervenção nos fatores de risco modificáveis, conforme os citados acima.
Em algumas situações pode ser revertido, principalmente se o paciente for atendido imediatamente ou nas primeiras três horas de evolução do ocorrido. “Tempo é cérebro”, faz questão de enfatizar.
O especialista sugere que o tratamento do AVC deve ser entendido com uma linha de cuidado que começa no transporte urgente e prolonga-se para além da alta hospitalar.
Com o auxílio de uma equipe multidisciplinar, segundo o médico, é possível alcançar uma reabilitação adequada na maioria dos pacientes com histórico da doença. Esta, pelo menos, é uma boa notícia, se comparada ao número de óbitos registrados em decorrência deste mal.
Sintomas comuns
Prestar muita atenção no seu corpo e nos sinais que geralmente ele emite;
Fraqueza ou paralisia na face, nos braços ou nas pernas, geralmente afetando um dos lados do corpo;
Alteração na sensibilidade (principalmente a redução ) em face ou membros, geralmente afetando um dos lados do corpo;
Perda súbita da fala ou dificuldade para se comunicar e compreender o que é dito;
Perda da visão ou dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos;
Dor de cabeça muito forte, de instalação súbita, sobretudo se acompanhada de vômitos;
Tontura, perda de equilíbrio ou de coordenação motora;
Manifestações muitas vezes sutis também merecem avaliação de um neurologista para a correta condução do caso.
Urgência
“Um dos principais desafios é identificar os sintomas e encaminhar o paciente nas primeiras três horas da ocorrência” Adson freitas de lucena Neurologista